junho 2022 ENTREVISTA 21 Em entrevista à Revista Portugalglobal, Tiago Pitta e Cunha, administrador da Fundação Oceano Azul, aborda a importância do mar para a economia portuguesa, ressalvando os principais desafios da Economia do Mar. O administrador da Fundação Oceano Azul afirma também que o oceano deve ser considerado uma prioridade estratégica, contribuindo efetivamente para o crescimento económico, através do aparecimento de novos setores, produtos e serviços. Para Tiago Pitta e Cunha, a Conferência dos Oceanos da ONU, que se realiza de 27 de junho a 1 de julho de 2022, em Lisboa, é uma oportunidade única para a tomada de decisões determinantes para o futuro do meio marinho. Qual a importância do Mar para Portugal e para a economia portuguesa? A importância do Mar para Portugal decorre es- sencialmente da geografia avassaladoramente marítima do nosso país, único Estado europeu de média dimensão que apenas tem um vizi- nho terrestre, a Espanha, projetado no Oceano Atlântico, na encruzilhada de três continentes, e que conta com as plataformas marítimas dos arquipélagos da Madeira e dos Açores. Para a economia portuguesa, a importância dos oceanos ainda está em grande medida por realizar. As áreas críticas e de maior potencial, dadas as transformações político-económicas que o mundo e a Europa estão a sofrer, são a área da energia offshore renovável; a área da alimentação/aquacultura de origem ma- rinha; e os portos e transportes marítimos. Todas estas áreas podem vir a projetar indústrias que contribuam para uma economia verde e que ajudem a descarbonizar a economia atual global, bem como as sociedades europeias. A bio economia azul, que é a economia inova- dora, de base tecnológica e científica, assente na utilização de recursos naturais vivos do mar (biotas marinhas), será também uma grande indústria para o país, principalmente se con- seguirmos escalar a biotecnologia de origem marinha ( Blue Biotech ), transitando de uma escala laboratorial, que existe atualmente em Portugal, para uma escala industrial. Concretamente: grandes parques de platafor- mas eólicas flutuantes offshore , associadas a aquacultura de algas e bivalves no offshore português; portos providos de energia elétrica; construção e reparação naval especializada em novas propulsões para navios; e biotecnologia azul serão as áreas mais promissoras para uma economia azul que permita a Portugal encon- trar novas avenidas de crescimento, de que tanto necessita. Qual é a estratégia sobre a qual assenta a Economia do Mar? Hoje em dia, a Economia do Mar em Portu- gal ainda não assenta numa estratégia muito focada. Há a Estratégia Nacional do Mar, que não é exatamente uma estratégia para a Eco- nomia do Mar. Julgo que, no que à economia diz respeito, chegou a altura de Portugal fa- zer escolhas, ainda que sejam escolhas difí- ceis, e determinar quais os setores que devem ser prioritários. Portugal não é Espanha, nem França. É muito mais a Nova Zelândia, Israel ou Singapura, e, como esses países, deve saber fazer opções setoriais, uma vez identificadas as vantagens competitivas comparativas de determinados setores da economia face a ou- tros setores. Depois, deve desenvolver políticas industriais de fomento dos setores promissores e alinhar incentivos estatais com iniciativa pri- vada e investimento privado estrangeiro. Quais os principais desafios da Economia do Mar? O principal desafio da Economia do Mar é come- çarmos por reconhecer que, através dos setores da energia, alimentação, transportes e bio eco- nomia/biotecnologia, pode ser uma alternativa
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