24 OPINIÃO Portugalglobal nº142 PORTUGAL E O REINO UNIDO NO PÓS-BREXIT O governo português nunca escondeu que teria preferido que o Reino Unido tivesse permanecido na União Europeia. Isto é, que o resultado do referendo de 2016 tivesse sido o oposto. O eleitorado, no entanto, pronunciou-se pela saída e democraticamente o resultado tinha que ser respeitado. clusão de várias iniciativas europeias, não per- mite uma relação tão próxima e tão “fluída” como desejaríamos. Este ponto é particular- mente evidente na área da política externa e outras áreas chamadas de soberania. © Fotografia de Rui Santos Jorge >POR MANUEL LOBO ANTUNES , EMBAIXADOR DE PORTUGAL EM LONDRES Cinco anos volvidos, é escusado agora reabrir uma discussão sobre os motivos da decisão do povo britânico, continuar a argumentar sobre os “ses” e os “mas”. Este debate está por ora encerrado, o que não significa que não possa eventualmente ser reaberto no futuro. É com factos, realidades, que temos que conviver, não com hipóteses ou desejos, por mais virtuo- sos que nos pareçam. Neste quadro, a posição portuguesa foi mui- to clara ao longo dos últimos anos e meses. Consciente que a relação do Reino Unido com a União Europeia não poderá ser da mesma natureza daquela enquanto Estado-membro da UE, passando ao estatuto de Estado ter- ceiro, o objetivo foi o de prevenir uma saída desordenada (o no-deal ) e negociar um qua- dro de relacionamento tão próximo quanto possível do que existia até então. Em gran- de medida estes objetivos foram alcançados, embora se deva reconhecer que a recusa do Reino Unido em integrar a união aduaneira e o mercado interno, assim como a sua autoex- Mas por outro lado, esta nova situação de me- nor proximidade ou intimidade no quadro das instituições e regras europeias abre portas à ex- ploração de oportunidades no relacionamento bilateral, de alguma forma menos evidentes por força da relação multilateral desenvolvida no âmbito da UE. Por outras palavras, o diá- logo e a ação política e diplomática tenderão a deslocar-se agora mais para o eixo Lisboa- -Londres e centrarem-se menos em Bruxelas. São, portanto, novos desafios com que somos confrontados, e estimulados. Tornou-se um lugar-comum a referência insis- tente à circunstância de Portugal e a Inglaterra serem dos mais velhos aliados na história da Europa. É bem conhecida a intervenção dos guerreiros ingleses na chamada reconquista cristã da Península e posteriormente o apoio político-militar que as forças inglesas nos pres- taram ao longo da história, no sentido de ga- rantir ou proteger a independência de Portugal na Península Ibérica e continente europeu. Esta realidade, porém, não nos deve fazer esque- cer que também houve espinhos no relacio- namento bilateral, uma vez que os interesses portugueses e britânicos nem sempre foram coincidentes, e por vezes mesmo conflituantes, sobretudo no espaço não-europeu. Mas, em geral, ambos os países partilharam ao longo dos séculos objetivos estratégicos seme- lhantes, em grande parte resultado da sua po-
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