maio 2021 ENTREVISTA 23 mas isso depende da coordenação dos regimes fiscal e de segurança social entre os dois países e que devem ser resolvidos no futuro. Qual a importância do mercado do Reino Unido no panorama global? Com a “du- pla” crise COVID-19 + Brexit, afigura-se um reajuste de influência? A seguir aos EUA, União Europeia, China, Ja- pão e Índia, o Reino Unido não deixa de ser o sexto maior bloco económico do mundo. Militarmente é uma das maiores potências do mundo e tem assento no Conselho da Segu- rança das Nações Unidas. O Reino Unido é um ator central no panorama global e não vai dei- xar de o ser só por causa do Brexit. Ao mesmo tempo, com certeza que haverá um reajustar de influência. Fora da UE, o poder negocial será certamente menor. Por outro lado, a CO- VID-19 favorece o reajustamento da influên- cia do Reino Unido de duas formas. Primeiro, porque, sobretudo graças ao sucesso do seu programa de vacinação, em comparação com o europeu, tudo indica que a economia britâ- nica vá recuperar seis a12 meses mais cedo do que a economia da UE. Segundo, porque se o mundo vai ser muito diferente no pós-COVID, com um reajuste dos setores da economia e da forma como trabalhamos, então a flexibi- lidade que o Reino Unido ganhou em fazer os ajustes adequados à sua economia, sem coordenação com Bruxelas, pode ser valiosa (se for bem usada). Nas políticas monetárias fará muito pouca diferença. O Reino Unido não participou do projeto do euro, e a independência do Banco de Inglaterra não é diferente no pós-Brexit. Londres vai perder força e negócio como pra- ça financeira, mas, pelo menos por enquanto, isso não parece ser tão extensivo que leve a grandes alterações no poder e na autonomia dos bancos centrais. Mais relevante é antes a autonomia de políti- cas orçamentais e fiscais, que tanta celeuma criaram nas negociações do Brexit. Embora não acredite que o Reino Unido se transforme num “paraíso fiscal”, não vai deixar de ter mui- ta flexibilidade para concorrer de forma agres- siva com a UE. personal.lse.ac.uk/reisr * Licenciado pela London School of Economics em 1999, Ricardo Reis completou o seu doutoramento na Universidade de Harvard em 2004, tendo lecionado na Universidade de Princeton, em Nova Jérsia, e na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. É inves- tigador associado do National Bureau of Economic Re- search (Cambridge, Massachusetts), do Centro de Pes- quisa de Política Económica (Londres) e do Centre for Macroeconomics (Londres), desempenhando também funções como consultor académico nos Banco de Ingla- terra, no Banco Central Europeu e no Federal Reserve Bank de Richmond. É ainda membro do Conselho da Diáspora Portuguesa. Quais os principais desafios e oportuni- dades para as empresas portuguesas que querem fazer negócio com o Reino Unido? A combinação da COVID-19 e do Brexit vão implicar alterações céleres na es- trutura dos negócios com o Reino Unido. Não vão diminuir as ligações de negócios, nem as oportunidades. Mas poderá mudar a for- ma como eles acontecem e os setores onde se encontram as grandes oportunidades. Por isso, vai ser preciso flexibilidade e um grande sentido de alerta para reagir rapidamente (e antes dos concorrentes) às oportunidades que o mercado britânico oferece. De que forma poderá o Reino Unido be- neficiar da definição autónoma das respe- tivas políticas monetárias? Procurará uma conformidade com a UE?
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