12 DESTAQUE Portugalglobal nº81 1 Filigrana portuguesa UMA ARTE MILENAR A filigrana é a arte de trabalhar o ouro e a prata através de delicados fios destes materiais, finamente entrelaçados e em pequeninas bolas de metal, soldadas de forma a compor um desenho, que acabam por formar peças elaboradas e variados modelos com uma estética única. Foi utilizada na joalharia desde a Antiguidade greco-romana. do esta técnica desaparecido. Posteriormente apareceram imitações de qualidade muito inferior, apesar de tudo também muito bonitas. A filigrana dá o mesmo aspeto estético da granulação, mas com muitíssimo menos trabalho. Se os etruscos foram o expoente máximo na granulação, os portugueses são atualmente os que fabricam a mais fina e bela filigrana de todo o mundo e de todas as culturas. Nas oficinas fabricam os esqueletos (contornos exteriores) das peças que entregam a senhoras, juntamente com o fio torcido (filigrana), as quais, com uma enorme habilidade manual, entalam com a ajuda duma pinça, aquele fio dentro dos referidos esqueletos. Depois de preenchidos os espaços com a filigrana formando belíssimas figuras, a peça volta à oficina onde é acabada. O maior segredo, consiste em soldar todos os finíssimos fios uns nos outros, sem os adulterar, fabricando uma peça compacta. De realçar que apesar do delicado e minucioso trabalho da filigrana, estas joias aparecem nas montras das ourivesarias a preço inferior à maioria das importadas, geralmente feitas em série. 1. CORAÇÃO EM FILIGRANA >POR MANUEL RODRIGUES DE FREITAS, OURIVES A palavra filigrana significa grânulos dispostos em fio ou fila. Para se conseguir esse efeito, colocam-se dois fios de ouro ou prata da espessura dum cabelo juntos, e com a ajuda de duas tábuas, num movimento de “vai vem”, se enrolam um no outro dando a ilusão de grânulos sequenciais. É bem possível que as principais técnicas de fabrico de ourivesaria, (repuxo, soldadura, granulação e filigranação) tenham nascido na antiga Mesopotâmia, hoje território do sul do Iraque, e tenha irradiado para todos os povos. Para o mediterrâneo e ocidente, com os fenícios, para oriente por mercadores e posteriormente para a costa oriental de África por árabes e indianos. Os etruscos (povo que antecedeu os romanos) desenvolveram a granulação à máxima perfeição, que consistia em soldar milhares de microscópicos grânulos em pequenas joias, formando figuras geométricas, isomórficas ou florais, ten- Sobre o autor Manuel Freitas é um dos ourives mais conhecidos do país. Formado em Economia pela Faculdade do Porto, assumiu em 1969 o negócio do tio, homem abastado que em 1920 fundou em Viana do Castelo a Ourivesaria Freitas. O então inspetor bancário passou a gerir a empresa, ao
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