46 ENTREVISTA Portugalglobal nº118 cipar nas reuniões dos órgãos da CPLP e acompanhar o seu seguimento e a execução de suas decisões. Além destas competências gerais que dão enquadramento ao trabalho do Secretariado Executivo, o secretário executivo pode, ainda, elaborar e propor medidas e iniciativas que promovam os objetivos da CPLP, realizar consultas juntos dos Estados-membros sobre temas que lhe pareçam relevantes ou urgentes, sugerir a realização de reuniões extraordinárias quando oportuno e representar a CPLP em fora internacionais. Como irá, no desempenho desta missão, capitalizar a sua experiência como antigo embaixador de Portugal em países como Angola, Cabo Verde e Brasil? Tive a oportunidade de acompanhar e testemunhar acontecimentos importantes em vários Estados-membros da CPLP, e vivi importantes períodos da minha vida em três deles (Cabo Verde, Angola e Brasil). Tenho, assim, alguma familiaridade com as particularidades dos países que integram a Comunidade, assim como com aquilo que eles têm em comum e que podem constituir pontos de convergência e de aprofundamento do diálogo político e da cooperação entre nós. Espero que esse conhecimento e essa convivência sejam mais-valias e contribuam para minha atuação como secretário executivo. Qual a importância da cooperação entre os países membros da CPLP para, em conjunto, enfrentarem os desafios da globalização? A CPLP reúne países muito diversos, a todos os níveis: dimensões territoriais, população, nível de desenvolvimento, grau de integração em projetos regionais, etc. Ao mesmo tempo, sem prejuízo das suas diferenças e singularidades, todos enfrentam desafios importantes e que não podem ser enfrentados de modo isolado. O facto de partilharmos a mesma língua cria um ambiente particularmente favorável para o desenvolvimento de uma cooperação efetiva entre os nossos países. Qualquer língua é mais do que um instrumento de comunicação. Ela carrega consigo valores, modos de pensar e a herança do universo cultural em que se desenvolveu. No caso da língua portuguesa, trata-se de um património comum dos nossos países, que foi sendo alimentado ao longo dos séculos com as contribuições de todos aqueles que a adotaram e a foram criando e enriquecendo, refletindo hoje toda a diversidade da nossa Comunidade. Dessa forma, considero a cooperação uma dimensão essencial da CPLP, pois possibilita a troca de experiências que, embora distintas, têm como pano de fundo um universo comum, que favorece a busca de soluções conjuntas para os desafios colocados pela busca do desenvolvimento sustentável. A “Tenho alguma familiaridade com as particularidades dos países que integram a Comunidade, assim como com aquilo que eles têm em comum e que podem constituir pontos de convergência e de aprofundamento do diálogo político e da cooperação entre nós.” cooperação da CPLP contribui assim para o desenvolvimento sustentado dos Estados-membros, a consolidação política, económica e social da Comunidade e a sua projeção enquanto Organização Internacional. A cooperação da CPLP assume-se hoje como transversal, interligando várias áreas e setores e alinhada com os esforços internacionalmente desenvolvidos nesse âmbito, nomeadamente com os princípios da Agenda 2030 das Nações Unidas os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) dela decorrente. A cooperação realizada pela CPLP nas áreas da Segurança Alimentar e Nutricional, Saúde, Igualdade de Género, Trabalho e Assuntos Sociais (designadamente no domínio do trabalho infantil), Direitos Humanos e Boa Governação, Turismo e Energia, vem contribuindo para a nossa crescente visibilidade e revelando um importante potencial para o alargamento das parcerias com diferentes tipologias de atores.
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