março 2023 DESTAQUE 7 O mar, a floresta e o agroalimentar são três áreas em que a bioeconomia terá maior impacto, mas os resulta- dos estendem-se a diversos outros setores. As tecnologias associadas à bioeconomia podem ser usadas na produção de novos fármacos ou cosméticos, no desenvolvimento de vacinas ou enzimas industriais, na produção de biocombustíveis ou bio- plásticos ou na criação de novas varie- dades de vegetais e carne produzida em laboratório. Juntar a tecnologia à produção sustentável é, por isso, um dos principais desafios que os países e as empresas enfrentam. Em Portugal a bioeconomia já repre- sentava, em 2020, um volume de ne- gócios de 41 mil milhões de euros e cerca de 7 por cento do Valor Acres- centado Bruto (VAB), aproximada- mente 12 mil milhões de euros, acima dos 4,9 por cento da média europeia, segundo o relatório “Bioeconomia Circular e Digital” realizado pela COTEC Portugal – Associação Empre- sarial para a Inovação e pela Universi- dade Católica. Este documento deixa algumas recomendações para a pro- moção da bioeconomia e sublinha a necessidade de garantir uma melhor utilização e disponibilização da bio- massa florestal, otimizar os fluxos de biomassa e apostar na certificação de novos produtos que cumpram deter- minadas regras. Esta é uma área que cria riqueza, talento e emprego. Em plena pandemia, a bioeconomia já empregava em 2020 cerca de 600 mil trabalhadores em Portugal, cerca de 13,3 por cento do total do emprego no país. de Ação para a Bioeconomia Susten- tável – Horizonte 2025, aprovado em Conselho de Ministros em novembro de 2021, após uma consulta pública que contou com a participação de empresas, associações comerciais e industriais e particulares, contempla cinco áreas de intervenção que pas- sam pelo incentivo à produção sus- tentável, promoção da investigação e inovação, desenvolvimento da bioin- dústria, promoção do conhecimento e competências e monitorização das atividades relacionadas com a bioe- conomia. Nessa altura foram também enquadradas as medidas setoriais previstas no Plano de Recuperação e Resiliência para promover a bioeco- nomia sustentável, que representam um investimento global de 145 mi- lhões de euros para projetos em di- ferentes áreas, da indústria têxtil ao calçado passando por iniciativas na área da floresta e da resina natural. A bioeconomia tem vindo a ganhar espaço nas agendas dos países e das empresas, à medida que a sustentabi- lidade deixa de ser apenas um desíg- nio para passar a ser uma exigência e o combate à crise climática se torna mais premente. Mas é preciso recuar pelo menos duas décadas para che- gar ao início deste debate. Em agosto de 2002 os investigadores Juan Enríquez e Rodrigo Martinez, da Harvard Business School, publica- ram o working paper Biotechonomy 1.0: A Rough Map of Biodata Flow , no qual abordavam a forma como o fluxo global de material genético de três grandes bases de dados públicas – GenBank, EMBL e DDBJ – poderia ter impacto económico, por exemplo relacionado com a evolução de start- -ups de biotecnologia ou a criação de patentes. Uma adaptação desse arti- go viria a ser publicado na revista Wi- red em 2003 e pouco depois o con- ceito de bioeconomia popularizou-se quando a União Europeia e a Organi- zação para a Cooperação e Desenvol- vimento Económico (OCDE) definiram uma agenda política para esta área. O conceito de bioeconomia passou a ser usado para referir as atividades económicas que recorrem aos recur- sos biológicos renováveis da terra ou do mar para produzir alimentos, pro- dutos para a área da saúde, têxteis ou energia. No fundo, a economia que, a partir recursos naturais, contribui para dar resposta a desafios relacio- nados com a crise climática, a segu- rança alimentar ou a produção de energia a partir de fontes renováveis. No conjunto dos Estados-membros da União Europeia a bioeconomia já representava, ainda antes da pande- mia, um volume de negócios de 2,4 biliões de euros e empregava mais de 18,5 milhões de pessoas, de acordo com o Eurostat. Vários países apro- varam planos de ação para esta área e Portugal não foi exceção. O Plano
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